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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sobre a Família Parceira

A Margarete, filha de pai industriário de fábrica de calçados, é natural de Montenegro, mas morou em vários lugares como Montenegro, Portão, Campo Bom e Scharlau. Teve seu primeiro filho muito cedo, com 14 anos e o Júlio, meu aluno, com 19. Passou muitas dificuldades, pois o pai dos meninos bebia e não queria saber muito de trabalho. Ela, por sua vez, fazia faxinas, porquenão tinha muito estudo, e até precisou se prostituir para poder sustentar os meninos quando não consegui serviço. Tentou fugir dessa situação muitas vezes, mas não conseguia. Quando conseguiu ir para a casa de uns parentes, o ex-companheiro roubou o Júlio e o escondeu por um ano. Durante esse tempo a mãe não teve notícias do filho e não pode saber até hoje o que aconteceu com ele naquele período. Disse que fez exames para ver se o menino, que era tão pequeno na época, não havia sofrido algum tipo de abuso, já que o pai era bêbado, viciado em drogas e não tinha boas companhias. Não descobriu nada. O fato é que o Júlio demorou muito mais do que o normal para aprender a falar e a andar. Ainda hoje faz xixi na cama e tem muita dificuldade em acompanhar os estudos. Inclusive a família tem certeza de que o menino passou do 4º para o 5º ano por pena, pois não fazia nada na aula e não sabia o conteúdo. Ele é um menino muito tímido, franzino, mas briga bastante durante o recreio, envolvendo-se com frequência em confusão.
Margarete veio para Portão há 23 anos, por que aqui vivia uma avó e um tio. A avó morava na frente da casa onde a família parceira vive hoje. Atualmente a avó está em outro bairro e o Bruno, filho mais velho da Margarete, vive com ela. O Júlio admira muito seu irmão mais velho, pois era viciado em drogas e recuperou-se. Hoje trabalha, estuda e comprou recentemente uma moto para ele. O Júlio se espelha muito no irmão e tem ele como figura paterna, pois foi esse irmão que cuidou muitas vezes do Júlio para a mãe poder trabalhar e é o amigo que lhe dá conselhos até hoje.
A família é católica, mas são bem abertos a outras teorias religiosas. E isso é bom, porque há muitas igrejinhas (salões ou templos) pela vila, e ela se dá bem com todos os vizinhos. Margarete conta que até alguns anos atrás todos se conheciam na vila; hoje há muita gente entrando e saindo dali. Poucos são os moradores antigos. Diz que a rua continua até umas propriedades rurais. A rua segue por chão batido e por casas que não tem luz nem água. E que bem lá no fundo ainda moravam umas senhoras descendentes dos Moraes, mas não tem certeza se ainda estão vivas e morando por lá. Muita gente veio morar ali por causa das fábricas de calçados e invadiam as áreas verdes. Mas sua casa é própria e escriturada, e conseguiram comprar um carro melhor para a família, já que para o serviço de vendedor do marido é bastante útil. Mas tudo é uma luta para eles. Tentam dar de tudo aos filhos. Ela tenta compensar as necessidades que os mais velhos passaram quando eram pequenos e tenta dar para a filha tudo o que não teve. Mas preocupam-se demais com a educação das crianças e cobram-lhes o estudo e as tarefas em casa. O casal vive bem e o Júlio respeita muito o padrasto. Pois ele lhe cobra bastante responsabilidade, mas também lhe dá o que precisa, além de conversar muito com ele sobre as coisas que acontecem na família. O casal às vezes vai ao clube Canto Lyra em Estância Velha, já que acham que não há muitas opções de lazer na cidade e que aqui é tudo muito caro. Às vezes visitam alguém ou vão a alguma praça tomar chimarrão, além de acompanhar as crianças nos compromissos do balé e do CTG. Sobre os problemas do bairro, eles sentem vontade de participar de alguma associação. Onde antigamente era o posto de saúde, no centro da vila, hoje foi cedido o espaço para uma associação de bairros ser criada, mas não há ninguém que se disponha a se envolver nesses assuntos. Uma senhora bem ativa no bairro articulava algumas ações, mas candidatou-se a vereadora há anos atrás e se decepcionou com o baixo apoio que recebeu. Seu desgosto foi tanto que até se mudou de lugar. E hoje em dia não há ninguém ali que se desponha a se envolver em “politicagem”, ficando assim o bairro a mercê do esquecimento dos políticos.
Margarete sonha com uma vida melhor. Sonha em voltar a estudar e trabalhar na área de enfermagem, mais especificamente com idosos, pois sente muita pena do jeito como a sociedade trata seus velhos. Sonha em ver seus filhos formados, com profissão e bem sucedidos. Sonha com o fim de alguns conflitos vividos dentro da família e sonha com um país melhor e mais justo para todo mundo.
Foi de fato um prazer conhecer esta família e criar uma parceria, não só de pesquisa e trabalho, mas também de amizade e compromissos mútuos.

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